Claudinei Chelles
Aparatos sofisticados como testes laboratoriais são utilizados para verificação da instalação do quadro de overtraining nos atletas de futebol. Porém, tais métodos geralmente são de difícil aplicação e acesso, devido ao alto custo, o que acaba restringindo a utilização desses recursos apenas aos atletas que têm disponíveis melhores condições através de suas equipes.
Muitas alterações no organismo têm sido descritas através dos procedimentos laboratoriais. No entanto, até o momento, nenhuma se mostrou, isoladamente, confiável a ponto de poder ser aceita como teste diagnóstico exclusivo para o overtraining. Entre essas alterações, pode-se citar: freqüência cardíaca máxima diminuída, alterações nas medidas de lactato, como sua concentração em esforço máximo ou seu limiar, alteração na relação testosterona/cortisol, alterações imunológicas que levam a infecção das vias aéreas superiores, alterações em marcadores séricos como CK (creatina Kinase) e uréia, etc. Enfim, tantas teorias de biomarcadores, entretanto, ainda não possibilitam maior conhecimento fidedigno sobre a etiologia e a fisiopatologia do quadro (PELUSO, 2003; BANFI, DOLCI, 2006).
Em alguns estudos, a síndrome do overtraining tem sido associada com altos níveis de cortisol no sangue e saliva na recuperação após o esforço, mas em outros estudos o mesmo não ocorre, gerando, assim, alguma controvérsia. Se mudanças hormonais ocorrem com o overtraining, então, é necessário que estudos longitudinais sejam realizados com atletas que se apresentem nessa condição para demonstração de resultados mais confiáveis (HOOPER et al., 1992, GARCIA, 2003).
As informações sobre o estado de recuperação de um atleta são fornecidas por parâmetros subjetivos (comentários sobre o estado atual, sobre o desempenho e sobre a disposição psíquica do atleta) ou objetivos (avaliação cardiopulmonar e endócrina). A dinâmica do desenvolvimento do desempenho físico apresenta uma fase de estagnação ou retrocesso, caracterizada pela falta de recuperação, situação muito freqüente no futebol devido aos jogos e sessões de treinamento. A negligência da recuperação pode causar síndromes crônicas de sobrecarga de diferentes naturezas, isto é, de natureza física ou psíquica; estas síndromes também podem ser denominadas “excesso de treinamento”.
Assim, como cita Weineck (1999), a associação lógica entre a carga e a recuperação no treinamento e na competição parece ser tão necessária no futebol quanto o volume, a intensidade e o aumento gradual das cargas. Um aumento da capacidade de desempenho somente parece ser possível devido ao emprego de medidas e métodos gerais e específicos de recuperação.
A partir da literatura citada, pode ser afirmado que atletas de futebol em situações de treinamento, caso sejam submetidos a estímulos (cargas de treinamento) excessivos, com período de recuperação insuficiente para reestruturação do organismo, sobretudo no enfoque das reservas energéticas, estarão envolvidos em um diagnóstico de síndrome do overtraining.
Avaliações através de análises laboratoriais freqüentemente são utilizadas para verificar alterações endócrino-metabólicas nas diversas condições de competição e treinamento no futebol. Porém, uma caracterização mais específica dessas alterações, para a obtenção de um instrumento que possa ser considerado referência na afirmação quantificada do overtraining ainda não foi conseguido.
Assim, é fundamental a realização de investigações que analisem a correlação dos dados coletados através das análises laboratoriais* com coleta de sangue e não invasivos (utilização da saliva), antropométricas* e psicológicas*, com o propósito da criação de um método de avaliação disponibilizado para os profissionais do futebol, de forma mais integrada, para evitar e contornar situações que se caracterizam como overtraining.
Avaliação bioquímica*: hemograma completo, cortisol, testosterona, glicose, catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), AGL (ácidos graxos livres), CK (creatina kinase), ACTH (hormônio adrenocorticotrópico), insulina, lactato, uréia, ácido úrico e creatinina. (Análise – Hemograma*: eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, leucócitos, linfócitos, monócitos, bastonetes, segmentados, eosinófilos, basófilos e plasmócitos).
Avaliação psicológica*:
Podem ser aplicados questionários como “POMS” (MCNAIR et al., 1971 e adaptações), “Escala de Avaliação de Reajuste Social” (HOLMES, RAHE, 1967 apud GREENBERG, 2002) e/ou “Questionário de Estresse Percebido” (SANZ-CARRILLO et al., 2002), bem como a organização de uma caderneta de registro individualizada, denominada Recordatório do dia e noite da coleta, com fins de se anotar as ocorrências significativas que possam causar estresse aos atletas. A intenção vai ao encontro do surgimento de fatos que não se limitam ao treinamento e a competição, mas que possam interferir nos níveis de estresse. Tendo em vista que a literatura apresenta vários estudos que observaram a existência do fator emocional como indício para a instalação do quadro.
Avaliação antropométrica*:
As pregas cutâneas podem ser verificadas por meio de adipômetro científico (CESCORF®), com precisão constante de 10 +/- 2 g/mm2 e abertura total de 85 mm, segundo critérios de Guedes (1994).
O índice de massa corpórea (IMC) pode ser calculado a partir das medidas do peso corporal e altura, utilizando-se como referência o padrão da World Health Organization (WHO, 1995).
BIBLIOGRAFIA
BANFI, G.; DOLCI, A. Free testosterone/cortisol ratio in soccer: usefulness of a categorization of values. J. Sports Med Phys Fitness. 46 (4):611-6, dec. 2006.
GARCIA, M. Marcadores Hormonais no overtraining no futebol. Campinas. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2003.
GREENBERG, J.S. Administração do estresse. 1a. edição brasileira. Editora Manoele. São Paulo, 2002.GUEDES, D.P. A técnica de espessura do tecido subcutâneo. In: _______. Composição corporal: princípios, técnicas e aplicações. 2ª. Edição. Londrina, Associação dos Professores de Educação Física, 1994. p.46-79.
HOOPER, S.L.; et al. Hormonal responses of elite swimmers to overtraining. Medicine and science in sports and exercise. v.15, n.6, jun, 1992. p.741-47.
MCNAIR, D. LORR, M., DROPPLEMAN, L. Profile of mood states manual. Educational and Industrial Testing Service. San Diego, Calif, 1971.
PELUSO, M.A.M. Alterações de humor associada a atividade física intensa. Tese de Doutorado. Faculdade de Medicina. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2003.
SANZ-CARRILLO, C; GARCÍA-CAMPAYO, J.; RUBIO, A., SANTED, M.A.; MONTORO, M. Validation of the spanish version of the perceived stress questionnaire. Journal of psychosomatic research. 52, p.167-172, 2002.
WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico, incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. 9ª. Edição. Editora Manole. São Paulo. 1999. 740p.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Physical status: the use and interpretation of antropometric. Report of a WHO Expert Committee. WHO Tec. Rep. Ser. n.854, p.1-452, 1995.
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